Desta vez, foi a mãe da Diana que veio contar-nos um Conto de Natal:
Inverno. Lá fora a neve cobriu todos os caminhos no seu cair lento e leve que lembra o voo de arminhos.
Na choupana pobrezinha, junto à lareira apagada, dormem Pedro e a irmãzinha, na mesma caminha sob a manta remendada.
Noite de Natal tão fria, noite de Natal gelada que nem lhes trouxe a alegria da modesta consoada. É como se Deus Menino se esquecesse da choupana, do Pedrinho e da mana, de toda aquela pobreza, daquela Avó tão velhinha que olha com funda tristeza os dois netos na caminha.
Na noite fria e deserta só a Avó está acordada. Sozinha, muito curvada, com a ternura dos velhos, seguira sobre os joelhos uns tamancos pequeninos que foi buscar à lareira. E, numa tristeza imensa, a pobre Avozinha pensa, como encontrar maneira de manter uma ilusão. E os seus lábios vão dizendo, num murmúrio de oração:
- Tão pobre somos, meu Deus... tão pobres, tão desprezados que não nos vedes dos céus. Para mim, nada vos peço... que já tive o meu quinhão, maior que mereço. Mas as crianças, Senhor, os meus netos pequeninos merecem o vosso amor... Velai pelos seus destinos, Jesus de bondade imensa... Que eles não percam a fé, que nunca percam a crença das suas almas branquinhas...
Calou-se a pobre Avozinha. Adormecera a rezar. Mas dos seus olhos cansados duas lágrimas rolavam, que foram depois tombar nos tamancos pequeninos que as suas mãos seguravam...
E quando a manhã rompeu, numa alegria tão clara que parecia vir do céu, os netinhos acordados viram coisa rara. Dormia ainda a Avozinha, aninhada na cadeira. Mas na pedra da lareira, sobre as cinzas apagadas, como nos contos de fadas, havia lindos brinquedos. E os tamancos pequeninos que a Avozinha segurava entre os seus trémulos dedos, tinham brilho que ofuscava.
Eram dois tamancos de ouro, que valiam um tesouro, e dentro deles, enormes como jóias de rainha, refulgiam diamantes... as lágrimas da Avozinha...
Dedico estas curtas linhas aos que conservam a Fé, e a todas as Avozinhas que à noite rezam, sozinhas, ao canto da chaminé.
Raul Correia
Vejam como foi...
Muito obrigada, Natércia pela partilha.